Funcionários de uma tradicional barraca da Praia do Leme, na Zona Sul do Rio, acusam uma banhista de ter feito ofensas racistas contra eles na quarta-feira (26). Segundo eles, as ofensas da cliente começaram depois que um deles ofereceu água para a mulher, que estava alterada por conta da bebida.
A barraca Rasta Beach é um espaço de encontro e amizade, como gostam de dizer os sócios, os irmãos Derik e Andrey Machado. Rasta, como Derik é conhecido, disse que foi um caso atípico, segundo informações do site G1.
“A gente atende gente de todo mundo, de todos os lugares, e a gente está sempre disposto a ajudar o nosso cliente e o não-cliente também, o frequentador da praia. Então, já existe uma naturalidade da galera que trabalha aqui dessa vibe boa”, contou Rasta.
Os irmãos, moradores do Morro da Babilônia, no Leme, começaram com a barraca na praia há sete anos.
“A gente está produzindo um local totalmente democrático. A gente se orgulha muito disso, do preto se sentir bem, a galera LGBTQI”, disse Andrey.
Na quarta-feira, os funcionários da barraca foram alvos de um episódio racista. Uma mulher, que segundo testemunhas, já tinha consumido uma certa quantidade de bebida alcoólica, ficou revoltada quando um deles, preocupado, perguntou se ela não preferia uma bebida não alcoólica.
“Ele ofereceu para ela: “a senhora não gostaria de beber um coco? Beber uma água?” Até para poder continuar curtindo sua praia tranquila? E bastou isso para ela dar uma surtada, né? Agora a gente ri, mas na hora foi bem assustador”, contou Rasta.
Num vídeo que circula nas redes sociais, a mulher aparece esbravejando diante da barraca.
“Vou fazer propaganda negativa, sim. Porque vocês são uns vacilões. É, eu sou branca que moro na Atlântica. Vou fazer propaganda negativa, sim. Rasta, o c******. É hipócrita. Bando de preto hipócrita. Numa mais vou voltar nessa m****”, gritou a mulher.
Segundo Andrey, ela quis atingir os barraqueiros. “Ela quis atingir a gente de alguma forma, ela quis dizer que era da alta sociedade, que morava aqui em frente, e que se ela está pagando a gente tinha que cumprir com aquilo”.
O vídeo começou a circular e como, os barraqueiros, são muito queridos na região, chegaram muitas mensagens de solidariedade. E pessoalmente também, como foi o caso do professor de futivôlei William Bruno de Freitas.
“Eles são os primeiros a chegar na praia, são os últimos a sair. A gente treina aqui até as 20h Às vezes às 20h30, eles estão saindo. Então, tipo é uma família, sempre tratam todo mundo bem, com total respeito, dedicação, sempre atendendo a galera bem”, contou o professor.
O advogado Bruno Cândido, frequentador do espaço, soube da história e também apareceu para dar ajuda jurídica.
“Aconteceram pelo menos duas discriminações aqui. A injúria racial, quando ela vira para um funcionário e com tom pejorativo tenta atingir a dignidade desse funcionário a partir da identidade racial dele, ou seja, da cor de pele dele. E principalmente, a incitação ao racismo que ela faz, quando ela se descontenta com a prestação do serviço e ela anuncia que ela vai começar a fazer uma promoção negativa”, disse o advogado.
Segundo Bruno, ela entende que os funcionários estão ali para servi-la.
“Ela entende que os homens negros que estão nesse estabelecimento deveriam servi-la, da forma que ela deseja. E quando contrariada, ela sai na verdade da cortina do racismo cordial, né? Que é essa pessoa que diz que é desconstruída, que diz que é aliada, que compreende a luta”, disse Bruno
Os irmãos Derik e Andrey dizem que já conseguiram descobrir a identidade da mulher que fez as ofensas e sabem que ela mora nas imediações. Eles vão à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância registrar o caso.
“Foi racista, foi totalmente racista. Não tem outra definição”, disse Andrey.
Segundo Derik, o sentimento de revolta ao ouvir os insultos foi grande. “As pessoas não sabem. Elas chegam aqui, veem a barraca montadinha, tudo lindo, mas tem toda uma logística, tem uma equipe por trás, tem um peso que entra, um peso que sai todos os dias. Então, deu um sentimento de revolta porque primeiro, a gente estava trabalhando. E segundo, que a gente está sempre disposto a fazer o melhor por quem pisa nessa areia aqui”, disse o sócio da Rasta Beach.