O pintor que foi agredido após ser confundido com um criminoso no sábado (7), conta que mudou a rotina após os socos e pontapés que recebeu na porta de um bar em São Gonçalo. Wellington Conceição da Silva conta que foi obrigado a dizer aos agressores onde mora e agora teme pela própria segurança.
“Eu não passo mais pela minha rua, eu vou por outras, para mudar um pouco”, afirmou Wellington.
Segundo o rapaz, foram os amigos que insistiram para que ele saísse de casa e denunciasse o crime.
““Se não fosse os meus amigos, eu (ainda) não teria saído de casa. Eu teria ficado trancado, me cuidando em casa. Neste momento, (eu) não teria saído. Se não fosse eles que tivessem me forçado, dizendo que sou ‘um garoto bom’ e que ‘isso não vai ficar assim’, que a minha imagem estava rodando e me pintando como ladrão’, eu não teria saído de casa”, afirma.
O pintor conta foi surpreendido por dois homens que o agrediram com socos, chutes e pontapés. O dono do bar, Papo de Amigo Pub, gravou um vídeo enquanto agredia o pintor, que estava ensanguentado e com hematomas. Ele disse estar com medo e envergonhado depois que o vídeo foi publicado nas redes sociais e viralizou.
Para voltar para casa, ele buscou novos caminhos.
“Eu só coloquei na cabeça de não andar pela via principal, com medo deles voltarem, fazerem de novo e porque eu achei que eles voltariam. Eu achei que ia morrer”, afirmou Wellington.
Wellington conta que as agressões foram tão violentas que ele não lembra totalmente o que aconteceu no dia que sofreu as agressões. A memória tem lapsos em alguns momentos. Ele lembra parcialmente como voltou para casa.
“Eu não me recordo se eu consegui me desgarrar dele ou se eles me liberaram. Acredito que eles podem ter me liberado porque eu tinha bebido e eles estavam comigo na mão. Não sei se eles me largaram ali. Eu sei que saí desnorteado pela rua”, disse.
No sábado, ele e um amigo haviam combinado de sair para beber e se divertirem. Wellington é pintor de fachadas de prédios e, por causa do mau tempo, ele não tinha trabalhado no dia. Um vídeo, registrado pelo amigo, mostra Wellington sorrindo e dançando na noite em que foi agredido.
“Era uma coisa normal, a gente tinha combinado de sair para tomar uma cerveja. Sair, curtir, tomar uma cerveja e voltar para casa”, contou o pintor.
No fim da noite, por volta de 1h, ele e o amigo seguiram caminhos diferentes. Wellington decidiu tomar uma última cerveja, na calçada de um bar. Wellington não lembra completamente como começou a ser agredido.
“Eu não me recordo a forma que me abordaram, o porquê que eles me abordaram. O que eu me lembro, assim, é que eu estava sentado no chão, isso daí me vem muito forte na minha mente, sentado no chão, sendo agredido, com soco, deitado no chão, não sei se me arrastaram, pois estou ralado”, disse.
O pintor conta que as agressões não paravam.
“Eu me lembro muito bem que estava chovendo muito. E eles me bicando [chutes], falando que eu tinha roubado”, contou.
Ele acredita que foi liberado após os agressores perceberem que foi um engano.
“Provavelmente me revistaram e viram que eu não tinha roubado ou cometido nenhum crime. Quem tinha cometido eram eles, que estavam fazendo aquilo comigo”, disse Wellington.
O rapaz diz que queria uma explicação da direção do bar, em relação as agressões.
“Queria saber porque ele me bateu. O tom de pele? A roupa que eu estava vestindo? Eu queria perguntar pra ele porque me bateu”, diz Wellington.
Dono de bar confirma postagem
O homem apontado como agressor aparece no registro de ocorrência como Pablo. Na manhã desta quinta-feira (12), o bar estava fechado. Ele atendeu o número do estabelecimento que aparece em uma rede social e confirmou que houve agressão, que segurou Wellington e que compartilhou o vídeo na internet.
“O que aconteceu foi o seguinte: às 3h, ele descalço passou correndo em frente ao bar. Uma menina atrás dele dizendo que ele tinha a agarrado. Enfim, aconteceu a agressão? Aconteceu”, afirmou o dono do bar.
Ele confirma que postou o vídeo nas redes sociais.
“Eu compartilhei”, disse o homem.
Advogada alega preconceito
A advogada do pintor afirma que os agressores foram movidos pelo preconceito.
“Welington foi confundido com um ladrão pelo simples fato de ser negro. Espancado com socos e pontapés, arrastado pela rua para confessar um crime que ele não cometeu”, disse a advogada Rejane Ferreira.
A Polícia Civil afirma que o proprietário do bar foi intimado a depor e os seguranças estão sendo identificados. O caso deve ser encaminhado à Justiça na semana que vem. Os acusados vão responder por lesão corporal e injúria.