O apresentador, humorista, ator e escritor Jô Soares morreu às 2h30 desta sexta-feira (5), aos 84 anos. Considerado um dos maiores humoristas do Brasil, o apresentador do “Programa do Jô”, exibido na TV Globo de 2000 a 2016, estava internado desde 28 de julho no Hospital Sírio-Libanês, na região central de São Paulo, segundo informações do site G1.
O anúncio da morte foi feito por Flávia Pedra, ex-mulher de Jô, e confirmada em nota pela assessoria de imprensa do Hospital Sírio-Libanês.
“Você é orgulho pra todo mundo que compartilhou de alguma forma a vida com você. Agradeço aos senhores Tempo e Espaço, por terem me dado a sorte de deixar nossas vidas se cruzarem. Obrigada pelas risadas de dar asma, por nossas casas do meu jeito, pelas viagens aos lugares mais chiques e mais mequetrefes, pela quantidade de filmes, que você achava uma sorte eu não lembrar pra ver de novo, e pela quantidade indecente de sorvete que a gente tomou assistindo”, escreveu Flávia em uma rede social.
No volume 1 de “O livro de Jô: uma autobiografia desautorizada”, lançado em 2017, com o jornalista Matinas Suzuki Jr., conta desde o nascimento em um hospital no Rio Comprido, na Zona Norte da cidade, até o começo do sucesso, na década de 60. O segundo volume foi lançado no ano seguinte.
A infância do carioca e tricolor de coração foi marcada pela vida próxima ao centro de poder durante o Estado Novo, decretado pouco antes do nascimento de Jô.
Ele vivia com os pais, o empresário Orlando Soares e a dona de casa Mercedes Leal Soares, em uma casa na Rua Farani, próxima ao Palácio Guanabara, usado por Getúlio Vargas para acomodar a família. Durante o império, o imóvel foi a residência da Princesa Isabel e do Conde D’Eu. O local também é próximo do Palácio do Catete.
“Quando eu tinha 5 anos, adorava ficar sentadinho na mureta defronte de casa. Um flash marcante que guardo desse tempo é o de Getúlio passando, em carro aberto, pela nossa rua”, afirma em um trecho da autobiografia.
Humor de família
Segundo Jô, o humor era de família. O pai, segundo ele, era especialista na observação e ter boas sacadas. A mãe, por outro lado, tinha um humor explícito, de contar piadas e boas histórias.
“Costumo dizer que meus pais me mimaram mas não me estragaram. Fizeram a coisa na medida certa”, afirmou Jô, filho único, sobre sua criação. Aos 12 anos de idade, foi estudar na Suíça, onde ficou até os 17.
Aos 18 anos, em 1957, na piscina do Copacabana Palace, o hotel de luxo mais conhecido do Rio, quando apresentava alguns números para amigos, um homem o chamou e perguntou quais eram seus planos futuros.
O jovem José Eugênio Soares – nome de batismo – disse que planejava uma carreira na diplomacia e estudava para prestar o vestibular do Instituto Rio Branco.
“Você pode estudar o que quiser agora, mas o que fará de fato na vida é trabalhar no teatro”, disse o homem, que era o autor, ator e diretor Silveira Sampaio, uma das maiores influências da carreira de Jô. A piscina do hotel foi definida por Jô Soares como um dos seus “primeiros palcos”.
“Executava os números de graça, pelo prazer de chamar a atenção e ouvir as risadas, mas a plateia era a mais influente da República, e logo o meu nome começaria a circular no meio artístico. Descobri que todos poderiam amar um homem gordo”, contou Jô.
Um dos restaurantes mais tradicionais do Rio de Janeiro, o Café Lamas, no Flamengo, fundado em 1874, também aparece nas memórias de Jô. O local foi frequentado pela família do artista, principalmente pelo pai, e também é citado nas obras escritas por ele.
“Frequentado por boêmios, artistas, intelectuais, políticos, jornalistas e até por umas poucas ovelhas negras do clero, o Lamas também servia de precioso manancial de informações”, afirma em Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, lançado em 2005.
O velório foi realizado na tarde desta sexta-feira (05), na região central da capital paulista, e foi restrito a amigos íntimos e familiares do comediante.