A Polícia Civil investiga a informação de que um racha na milícia liderada por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, teria provocado uma nova disputa pelo direito de explorar negócios irregulares em áreas da Zona Oeste do Rio e em parte de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Por conta do conflito, que teria estourado há uma semana, pelo menos duas pessoas já morreram.
Uma das versões investigadas é a de que Danilo Dias Lima, o Tandera, chefe de um grupo miliciano rival que perdeu seu território, teria buscado apoio de ex-aliados de Zinho para tentar retomar o controle de atividades ilegais em áreas de onde foi expulso, em agosto último, segundo informações do site Extra.
O primeiro sinal de que uma nova disputa ocorreria aconteceu no dia 26/11, quando um homem supostamente ligado a Rodrigo dos Santos, o Latrel, até então apontado como uma das lideranças do bando de Zinho, foi executado com tiros de fuzil no estacionamento de um mercado, em Campo Grande, na Zona Oeste. Os assassinos, que usavam roupas pretas e capuzes, surpreenderam a vítima quando ela se preparava para entrar em um carro. O crime é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
A principal linha seguida pela especializada é a de que o assassinato foi praticado por homens da milícia. No mesmo dia, Latrel teria recebido ameaças no presídio Bandeira Stampa, o Bangu 9, onde aguarda julgamento desde que foi preso em março. Por precaução, ele foi transferido para uma outra galeria onde está separado dos ex-aliados. Procurada, a Secretaria de Administração Penitenciária negou qualquer problema em Bangu 9 e disse, em nota, que “as transferências de internos fazem parte da rotina operacional da pasta”.
Há uma semana, um comboio com cerca de dez carros, ocupados por milicianos do bando de Zinho, foi visto circulando por pontos de Santa Cruz e Santa Margarida, na Zona Oeste, e pelo bairro Km32, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
O objetivo da iniciativa, determinada por Zinho, seria o de evitar que a região fosse novamente dominada por Tandera. O último capítulo da disputa ocorreu na noite de quarta-feira (30). Preocupado com possíveis investidas de remanescentes do bando do rival, Zinho marcou uma reunião com seu grupo no bairro Três Pontes, em Santa Cruz, na Zona Oeste. O setor de inteligência da PM teve acesso à informação e uma equipe do Batalhão de Operações Especiais foi até ao bairro e houve confronto.
Um miliciano conhecido pelo apelido de Lobão foi ferido e não resistiu. Pelo menos 12 paramilitares, incluindo Zinho, teriam conseguindo escapar. No local do tiroteio os policiais apreenderam 12 carregadores de fuzil, 200 balas, três coletes balísticos, quatro carros e ainda seis transmissores e dois amplificadores de sinais de internet.
Entre as informações investigadas pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e de Inquéritos Especiais (Draco-IE) está a de que Danilo Tandera teria buscado apoio de homens ligados a um ex-chefe da milícia da Zona Oeste: o ex-PM Toni Ângelo de Souza Aguiar, preso no Complexo de Gericinó desde o ano passado.
Tandera também teria procurado pessoas ligadas à quadrilha que foi chefiada pelo ex-policial civil Rafael Luz Souza, o Pulgão. Ele está preso depois de ter sido condenado por atuar em grupo paramiliar na Favela da carobinha, em Campo Grande.
Arrecadação de R$ 10 milhões por mês
Faturamentos milionários estão por trás da guerra que envolve os dois grupos de milicianos rivais. Estimativa da polícia revela que na Zona Oeste, a quadrilha comandada por Zinho arrecada mensalmente entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões. A maior parte deste dinheiro vem do transporte alternativo. Só com cobrança de taxas de motoristas de vans, a milícia recebe de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões por mês, de acordo com investigações policiais.
Em setembro do ano passado, quando Tandera ainda controlava parte do território da Zona Oeste, homens de seu bando teriam queimado vans que pagavam taxas de segurança para Zinho. O crime ocorreu em pontos de Santa Cruz e Paciência. O objetivo da ação era forçar que os motoristas do transporte alternativo passassem a pagar o “imposto” para o grupo de Tandera.
Os dois milicianos já fizeram parte da mesma quadrilha, que era chefiada, na época, por Wellington da Silva Braga, o Ecko, irmão de Zinho. No fim de 2020, Ecko e Tandera teriam tido um desentendimento, que deu origem a uma onda de conflitos.
Ecko acabou morto ao trocar tiros com policiais, em junho do ano passado. Já Tandera montou um grupo rival, que até agosto, dominou bairros de Nova Iguaçu, Seropédica e Itaguaí. Mas uma série de prisões e apreensões de armas fez Tandera perder poder de fogo. Enfraquecido, abandonou o território, que passou a ser explorado por Zinho, irmão de seu antigo chefe.