A Justiça do Rio manteve, após audiência de custódia nesta terça-feira (29), a prisão do contraventor Rogério Andrade, patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel e o maior bicheiro do Rio.
Andrade havia sido preso durante a manhã pelo Ministério Público na Operação Último Ato, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), que afirma que o bicheiro mandou matar o rival Fernando Iggnácio.
A 1ª Vara Criminal do Tribunal do Júri, que expediu os mandados de prisão contra o bicheiro e Gilmar Eneas Lisbo – apontado como a pessoa que monitorou Iggnácio antes do assassinato – determinou que o contraventor vá para um presídio federal.
Após a audiência de custódia, Rogério foi transferido para o Complexo de Gericinó, na Zona Oeste, onde aguardará a transferência para o presídio federal.
De acordo com a sentença, Rogério exerceria a função de chefe de grupo criminoso voltado para a prática de diversos crimes, como homicídio, corrupção, contravenção e lavagem de dinheiro, com contatos em órgãos de segurança estaduais.
Uma nova denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), aceita pela Justiça, apresenta provas que demonstrariam que Rogério é o autor do plano de assassinato de Iggnácio.
Iggnácio, genro e herdeiro do contraventor Castor de Andrade, tio de Rogério, foi executado em 10 de novembro de 2020 em uma emboscada no Recreio dos Bandeirantes. Ele tinha acabado de desembarcar de um helicóptero, vindo de Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense, e foi alvejado ao caminhar até o carro. Os tiros foram de fuzil 556.
Segundo informações, Rogério Andrade iria primeiro para o Presídio de Benfica e depois para Bangu 1 — para só então ser transferido a uma unidade federal.
Em nota, o advogado Raphael Mattos, que faz a defesa de Andrade, informou que “por ora não vai se manifestar”, já que ainda não teve “acesso ao processo” que motivou a prisão do seu cliente nesta terça-feira.
Briga pelo poder
Castor de Andrade era um dos chefões do jogo do bicho no Rio e morreu de infarto em 1997. Iggnácio, que o sogro sempre considerou favorito para sucedê-lo, assumiu esse império e o expandiu com máquinas de caça-níqueis.
Rogério é sobrinho de Castor e sempre teve desavenças com o Iggnácio. No fim dos anos 90, Rogério revolveu investir também no caça-níquel e passou a invadir parte do negócio de Iggnácio, dando início a uma guerra sangrenta na família: pelo menos 50 pessoas foram assassinadas na disputa.
Vaivém na Justiça
Em março de 2021, o MPRJ tinha denunciado Rogério Andrade como mandante da morte de Iggnácio. No entanto, em fevereiro de 2022, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu trancar a ação penal contra o contraventor, alegando falta de provas.
“Em novo procedimento investigatório criminal, o Gaeco identificou não só sucessivas execuções protagonizadas pela disputa entre os contraventores Fernando Iggnácio e Rogério de Andrade, mas também a participação de uma outra pessoa no homicídio de Fernando: Gilmar foi o responsável por monitorar a vítima até o momento do crime”, narra o MPRJ.
Sem tornozeleira
Em abril deste ano, Rogério Andrade retirou a tornozeleira eletrônica que monitorava seus deslocamentos, após uma decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF). O contraventor ficou quase 1 ano e meio com a tornozeleira eletrônica e cumprindo recolhimento domiciliar noturno, sem poder sair de casa após as 18h.
A vigilância eletrônica decorria da 2ª fase da Operação Calígula, em agosto de 2022, quando Andrade foi preso ao lado do filho, Gustavo.
A Operação Calígula, deflagrada pelo MPRJ no dia 10 de maio de 2022, teve mais de 30 denunciados e 14 presos. Rogério e o filho Gustavo ficaram inicialmente foragidos. O nome de Rogério chegou a constar da lista dos mais procurados da Interpol.
Entre os presos estavam os delegados Marcos Cipriano e Adriana Belém.
Segundo a denúncia do MPRJ que embasou a operação, Rogério Andrade expandia seus negócios de exploração de jogos de azar em vasta área geográfica, mediante a imposição de domínio territorial com violência, além da prática reiterada e sistêmica dos crimes de corrupção ativa, homicídio, lavagem de dinheiro, extorsão e ameaça, dentre outros.
Rogério seria o chefe da organização criminosa que contava ainda com o PM reformado Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco, e a delegada Adriana Belém, que facilitaria as ações do grupo.
Gustavo aparecia como o número 2 na hierarquia criminosa montada por Rogério Andrade. É também chamado de Príncipe Regente.