A Rocinha, na Zona Sul do Rio, permanece com o título de maior favela do país segundo dados do Censo 2022 Favelas e Comunidades Urbanas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A comunidade cresceu desde 2010, data do último censo: chegou a 72.021 moradores, 4% a mais, divididos em mais de 30 mil domicílios.
O crescimento da Rocinha, no entanto, vai na direção oposta ao de toda cidade do Rio: a capital fluminense perdeu 43,3 mil moradores de comunidades e viu São Paulo ultrapassar e assumir o posto de cidade com o maior número de pessoas morando em favelas do país. Um dos dados para o IBGE considerar como sendo uma área favela é a precarização da posse do terreno.
Em 2023, um dado preliminar da pesquisa foi divulgado apontando a Sol Nascente, em Brasília, como a maior favela do país. No entanto, após o refinamento dos dados, o IBGE concluiu que a Rocinha nunca perdeu este posto. Os números mostram que caso fosse um município independente, a favela do Rio superaria outras 5.112 cidades brasileiras em termos populacionais.
“Os dados que foram apresentados para a Rocinha e para a São Nascente foram dados preliminares. Eles não estavam consolidados. Houve todo um processo de atualização do mapeamento entre dezembro do ano passado até agosto desse ano”, explica o geógrafo Jaison Cervi, gerente de Pesquisas e Classificações Territoriais do IBGE.
Há três anos, a nutricionista Ester Paula Lopes, de 37 anos, deixou uma vida de conforto e o Land Rover em Rio Claro, no interior de São Paulo, para abrir o próprio negócio na maior favela do Brasil, “O Rei do Picolé”. Uma loja toda colorida e que chama atenção, principalmente das crianças.
“O meu público-alvo são pessoas de comunidades. Como a Rocinha é a maior de todas, eu decidi vir para cá. E foi a melhor escolha. Eu fui muito acolhida. Os vizinhos viam minha luta, fazendo as coisas sozinha, e me ajudavam. Com eles eu consegui montar a decoração da loja, fazer a fiação elétrica. Isso é muito lindo”, conta Ester.
Ela se formou na Unicamp e na Escola Sorvete, de Francisco Sant’Ana, conhecida por ser referência nacional no setor. Pouco a pouco ela foi conquistando o maquinário, e a clientela. Hoje, parte do lucro dos picolés é doado para ajudar moradores em necessidade.
“É um dinheiro que volta para a comunidade. Eu comecei com uma loja pequenininha, morava em cima. Agora já cresceu, está aqui embaixo e consegui ir para uma casa mais confortável. Eu que faço tudo, das receitas, que são todas balanceadas, até a embalagem. É muito trabalho, às vezes 16 horas, mas vale a pena. Deixei uma vida para trás em São Paulo e não me arrependo”, conta empresária.
Crescimento da Rocinha
Dados do Instituto Pereira Passos (IPP) mostram que a Rocinha não cresceu horizontalmente. De 2010 a 2019, a favela, cercada pela Mata Atlântica, estagnou sua expansão alternando ao longo dos anos variações decimais positivas ou negativas de seu território. Mas como o Censo de 2022 pode mostrar o aumento populacional e de domicílios na favela?
Pela primeira vez, a pesquisa do IBGE quantificou o estilo de moradia e revelou que a Rocinha também sustenta o título de mais vertical do país, com 9.443 apartamentos, o que indica que ela cresceu com a construção de pequenos prédios.
“A procura por imóveis aqui ainda é muito alta, o que acaba deixando o preço do aluguel mais caro. Hoje você não encontra uma quitinete aqui por menos de R$ 800, que é só quarto, cozinha americana e banheiro. Já uma casa os cômodos divididos, um quarto, sala, cozinha e banheiro é pelo menos R$ 1.500. Quanto mais para cima do morro, e mais para dentro dos becos, menor é o valor”, explica Marcondes Ximenes, vice-presidente da associação.
É em uma dessas quitinetes que vive a massoterapeuta Ana Carolina da Silva, de 32 anos. Ela se mudou para a Rocinha em 2020. Antes, ela morava em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, na divisa do município com Belford Roxo. Ela trabalha no Centro da cidade e decidiu se mudar para ter mais qualidade de vida.
“Sempre quis morar aqui, pesquisava já há um tempo. É perto de tudo, da praia, do metrô. Para eu chegar no trabalho eu pegava três conduções, ônibus, trem e metrô. Agora pego só o metrô aqui do lado e chego rápido em qualquer lugar. Fora que eu me sinto mais segura para chegar e sair, todo mundo se comunica, se ajuda, tem tudo 24 h”, conta.
Favelas seguem tendência de toda a cidade
O Censo de 2022 mostrou que, desde 2010, todo o município do Rio perdeu 110 mil habitantes. Cerca de 40% deles são de favelas cariocas. O levantamento aponta que, apesar do crescimento de alguma comunidade, no total são menos 43 mil moradores dessas áreas. Entre as 20 favelas mais populosas do país, além da Rocinha, ainda figuram Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, e Jacarezinho, na Zona Norte.
Favelas mais populosas do Rio
Favela
- Rocinha: 72.021
- Rio das Pedras: 55.653
- Jacarezinho: 29.766
- Fazenda Coqueiro: 18.499
- Nova Cidade: 16.580
- Vila VIntém: 14.140
- Muzema: 12.982
- Nova Holanda: 12.224
- Vila Rica de Irajá: 12.089
Fonte: Censo 2022
O levantamento do IBGE historicamente não agrupa algumas favelas. Rio das Pedras, por exemplo, é dividida em duas pela Avenida Engenheiro Souza Filho. Caso fosse considerada
uma só, continuaria em 2ª no ranking de mais populosa do Rio, mas reduziria a distância para a Rocinha com 64.988 moradores. O mesmo ocorre em grandes complexos como a Maré e Alemão. Neles, apenas as favelas são contabilizadas.