O dólar fechou em alta nesta segunda-feira (07), aos R$ 5,91, em mais um dia de pânico no mercado financeiro diante do receio de que uma guerra comercial esteja prestes a começar.
O motivo de preocupação é o “tarifaço” anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que já entrou em vigor no sábado (05). Na máxima do dia, o dólar chegou a R$ 5,9313.
Na última quarta-feira (02), Trump anunciou seu plano de tarifas recíprocas, com taxas de 10% a 50% sobre as importações de mais de 180 países.
Na sexta-feira (04), o sentimento negativo já havia se intensificado com a China anunciando uma retaliação. Os EUA impuseram 34% de taxas extras sobre as importações chinesas, e o governo chinês respondeu com tarifas da mesma magnitude sobre os produtos americanos.
Já nesta segunda-feira, Trump ameaçou aumentar as tarifas sobre a China em mais 50% se o país não recuar na retaliação. O mercado também acredita que a União Europeia pode anunciar suas primeiras medidas em resposta ao “tarifaço” de Trump.
Investidores temem que a situação se transforme em uma guerra comercial generalizada. A disputa pode elevar a inflação dos países envolvidos, com aumento nos preços dos insumos para bens e serviços. Além disso, as tarifas tendem a reduzir os níveis de comércio internacional e consumo interno, desacelerando a atividade econômica.
Com os temores de que o mundo enfrente um período de recessão econômica, as bolsas globais estão em queda acentuada mais uma vez. O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, fechou em queda de 1,31%.
- Na Ásia, o dia foi de queda acentuada, com destaque para a bolsa de Hong Kong, que despencou 13,22%. O índice CSI 1000, da China, caiu 11,39%.
- Na Europa, o pregão também foi negativo. Os principais índices acionários apresentaram quedas significativas, superiores a 4%.
- Nos Estados Unidos, apenas o índice Nasdaq tem leve alta.
Dólar
O dólar fechou em alta de 1,29%, cotado a R$ 5,9106. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,9313. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
- alta de 1,29% na semana;
- ganho de 3,59% no mês;
- perda de 4,35% no ano.
Na sexta-feira, a moeda americana teve alta de 3,68%, cotada a R$ 5,8355.
Ibovespa
O Ibovespa fechou em queda de 1,31%, aos 125.588 pontos.
Com o resultado, o Ibovespa acumulou:
- queda de 1,31% na semana;
- recuo de 3,59% no mês;
- ganho de 4,41% no ano.
Na sexta-feira, o índice teve baixa de 2,96%, aos 127.256 pontos.
O que está mexendo com os mercados?
A imposição de tarifas pelos EUA fez os mercados derreterem desde a semana passada. Donald Trump detalhou a medida na quarta-feira (02) e, desde então, as bolsas despencaram pelo mundo, especialmente na Europa e na Ásia.
Os principais índices norte-americanos também foram fortemente impactados, caindo até 10% no acumulado da semana. As bolsas de Nova York registraram as maiores quedas em um único dia desde 2020, ano em que o planeta enfrentava a pandemia de Covid-19.
Ao todo, empresas listadas no mercado norte-americano perderam US$ 6 trilhões em valor de mercado entre quinta e sexta-feira, conforme levantamento feito por Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta.
As maiores perdas foram das chamadas “magnificent seven” (sete magníficas), grupo das sete gigantes da tecnologia que lideraram os mercados nos últimos anos. Fazem parte do grupo a Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla.
As companhias perderam, juntas, US$ 1 trilhão em valor de mercado na quinta-feira, dia seguinte ao anúncio das tarifas recíprocas pelo presidente norte-americano. Na sexta-feira, as perdas foram de US$ 802 bilhões, totalizando US$ 1,8 trilhão em dois dias.
Nesta segunda-feira, Donald Trump escalou a questão e ameaçou aumentar as tarifas sobre a China em mais 50% se o país não recuar na imposição de tarifas de 34% sobre todos os produtos importados dos EUA, uma resposta ao “tarifaço”.
“Se a China não retirar seu aumento de 34% acima de seus abusos comerciais de longo prazo até amanhã, 08 de abril de 2025, os Estados Unidos imporão tarifas adicionais à China de 50%, com efeito em 09 de abril”, publicou Trump em sua rede social.
Especialistas acreditam que esse aumento de preços deve pressionar os custos e reduzir o consumo nos EUA, o que pode provocar uma desaceleração ou até uma recessão na maior economia do mundo.
Com as tarifas recíprocas, aplicadas a mais de 180 países, o grande temor do mercado é de que o “tarifaço” inicie uma guerra comercial generalizada. O cenário de incerteza faz com que os investidores se afastem dos ativos de risco, como os mercados de ações, o que prejudica as bolsas de valores em todo o mundo.
Em sua resposta, o governo chinês também anunciou que vai impor controles sobre a exportação de terras raras para os EUA — um conjunto de matérias-primas que são difíceis de encontrar pelo mundo, mas são a base para a produção de muitos produtos tecnológicos, como chips para celulares, computadores e cartões.
Alguns dos materiais que terão sua exportação controlada pelo governo são samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio. Essas restrições já começam a valer nesta sexta-feira.
“O objetivo da implementação do governo chinês de controles de exportação sobre itens relevantes de acordo com a lei é proteger melhor a segurança e os interesses nacionais e cumprir obrigações internacionais como a não proliferação”, disse o Ministério do Comércio em um comunicado.
Os temores de uma guerra comercial se justificam principalmente pela possibilidade de o mundo todo se envolver em um período de forte desaceleração da atividade econômica.
O analista financeiro Vitor Miziara explica que, para além da cautela já gerada pelas tarifas americanas, eventuais retaliações tarifárias aplicadas por outros países podem, primeiro, elevar a inflação em nível global e, depois, reduzir uma forte queda na demanda.
“Com tarifa no mundo inteiro, tudo fica mais caro até que o comércio global pare”, pontua.
Tarifas maiores tornam os produtos mais caros, e encarecem também os bens e serviços que dependem desses insumos importados. Isso tende a aumentar a inflação e impactar o consumo.
Por isso, há uma percepção de que os EUA podem passar por um período de desaceleração da atividade econômica, ou até uma recessão da economia — o que tem potencial de afetar o mundo todo.