A indústria brasileira está preocupada com uma possível consequência da sobretaxa americana nos produtos chineses.
A China traçou o caminho do sucesso econômico quando escolheu ser o parque industrial do mundo. Com a força do trabalho da população, se tornou um exportador gigante.
E se um dia produto chinês já foi sinônimo de má qualidade, hoje o mundo tem uma opinião bem diferente e reconhece a tecnologia de ponta do que é produzido lá.
A chegada ao Brasil foi pelos camelôs – produtos de má qualidade, cópias baratas de marcas oficiais. Mas o “Made in China” avançou e foi parar nas etiquetas das roupas, nas peças de eletrodomésticos, nos eletroeletrônicos. Já tem marca em mandarim de celulares, carros elétricos, máquinas agrícolas, adubos e fertilizantes.
Na avaliação de economistas, a invasão chinesa de mercados pelo mundo pode ser o próximo capítulo da guerra tarifária.
O principal cliente, hoje, é o maior opositor. Mas com as sobretaxas americanas, a fatia que cabe aos Estados Unidos deve ir para outros mercados. O Brasil, por exemplo, 15º na lista de compradores.
É o que calcula a Casa Branca. Nesta quarta-feira (09), o secretário do Tesouro dos Estados Unidos explicou a estratégia:
“A economia chinesa é baseada em inundar o planeta com produtos baratos. O resto do mundo agora vai entender. Nossas exportações vão para os países do G7 e do Sul Global.”
É um cenário provável, na opinião do especialista em relações internacionais Thiago de Aragão.
“Eles vão precisar manter a máquina industrial rodando. Então, você vai precisar desovar isso em algum lugar. O Brasil pode ser um destino de produtos que são necessários para o dia a dia, seja para indústria, sejam componentes, que pode baratear o acesso desses produtos por parte da população. Mas, por outro lado, o Brasil também vai ser um destino cada vez maior de dumping chinês, que é jogar produto em determinado país, e isso já acontece com o Brasil e a tendência é que isso aconteça ainda mais. Fica muito difícil concorrer com a China por mil razões, pelo custo de produção na China que é muito mais baixo, pelos subsídios do Estado que são muito altos. O que para o consumidor é excelente, mas para disputa interna e com a indústria brasileira é problemático”, afirma Thiago de Aragão, CEO da Arko International.
Já está na conta da indústria
“Para o conjunto da indústria, é um cenário de muita, muita atenção, de muita cautela e de muito esforço coletivo, público e privado, para que não venha a haver ainda mais prejuízos à indústria nacional”, afirmou Antônio Carlos Costa, superintendente da Fiesp.
Se trouxer na mala oportunidade de trabalho para os brasileiros, o desembarque chinês pode ser bom, explica o professor de relações internacionais Vinícius Vieira:
“O Brasil pode negociar no futuro próximo com a China não há importação de produtos industriais, mas investimentos de fábricas chinesas, como já existem alguns inclusive no setor de carros elétricos, para que esses produtos sejam feitos aqui no Brasil”.