O surto de um fungo raro numa fábrica de papel na cidade de Escanaba, em Michigan, nos Estados Unidos, já deixou um morto entre os quase 100 infectados, 21 casos confirmados e 76 casos prováveis. Há ainda 12 pessoas hospitalizadas, disseram as autoridades de saúde. O local foi fechado temporariamente enquanto investigadores tentam identificar a origem da disseminação.
A empresa sueca Billerud disse na quinta-feira (13), que as atividades devem continuar suspensas por três semanas para realizar uma limpeza profunda, inspecionar sistemas de ventilação, substituir filtros e testar várias matérias-primas que chegam à fábrica, que emprega cerca de 830 pessoas.
“Identificar a fonte pode ser difícil porque o fungo Blastomyces é endêmico da área”, disse a empresa em comunicado. No entanto, ressalta que “nunca houve um surto industrial desta natureza documentado em qualquer lugar dos EUA”
O fungo Blastomyces cresce em solo úmido e matéria em decomposição, como madeira e folhas, e pode se espalhar pelo ar se for perturbado. As infecções pelo agente, chamadas de blastomicose, porém, são extremamente raras. Em 2019, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) relataram apenas 240 casos em todo o país.
Em média, nos últimos cinco anos, apenas 26 casos foram relatados em todo o estado do Michigan, onde fica a fábrica, de acordo com a agência de saúde local. No entanto, observou a agência, a Península Superior de Michigan é uma área de risco conhecida para infecção por blastomicose.
Segundo o CDC, “a blastomicose permanece pouco compreendida”. O fungo vive principalmente nos estados do Meio-Oeste, Centro-Sul e Sudeste, especialmente em áreas ao redor dos vales dos rios Ohio e Mississippi, dos Grandes Lagos e do rio St. Lawrence. A maioria das pessoas que respira os esporos do Blastomyces não fica doente.
Quando contaminado, os sintomas incluem tosse (às vezes com sangue), febre, dor no peito, dificuldade para respirar, suores noturnos, fadiga, perda de peso, dores musculares e articulares. Os sinais aparecem entre três semanas a três meses após a exposição, o que pode dificultar o monitoramento.
O surto na fábrica, por exemplo, teve os primeiros 15 casos prováveis identificados em fevereiro, número que saltou para 100 após dois meses. A blastomicose pode ser tratada com medicamentos antifúngicos.
Uma equipe liderada pelo Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional dos EUA visitou a fábrica nos dias 27 e 28 de março após um pedido da Billerud. A agência aconselhou a empresa a disponibilizar máscaras N95 para reduzir a exposição potencial e a inspecionar o sistema de ventilação e os dutos em busca de “evidências de entrada de água e crescimento microbiano” enquanto as investigações continuavam.
No sábado, o CDC disse em um comunicado que planejava retornar à fábrica no final de abril para oferecer testes de triagem de antígeno de urina de Blastomyces para possível exposição, uma forma de identificar a infecção. A participação seria voluntária.
Os investigadores utilizarão os resultados dos testes e um questionário “para informar uma estratégia de amostragem ambiental”, disse a agência, acrescentando que os dados podem ajudar a restringir os locais de teste na fábrica.
“Nossa principal prioridade agora e sempre é proteger a saúde e a segurança de nossos funcionários e contratados que trabalham em nossa fábrica de Escanaba”, disse Christoph Michalski, presidente e diretor executivo da Billerud, em comunicado. “Nós nos preocupamos profundamente com o bem-estar deles e estamos fazendo tudo o que podemos para protegê-los e identificar e tratar a causa raiz das infecções fúngicas da blastomicose.”
De acordo com o site da Billerud, a fábrica de Escanaba começou a fabricar papel em 1911. Hoje, a fábrica produz papéis gráficos usados em impressão comercial, materiais de marketing e rótulos e tem capacidade para produzir cerca de 660 mil toneladas de papel por ano.