Os mentores do atentado a bomba que seria realizado durante o show da cantora Lady Gaga, na noite de sábado (3), em Copacabana, Zona Sul, vão responder pelo crime de terrorismo. A informação é do delegado Felipe Curi, secretário de Polícia Civil, na manhã deste domingo (4), durante entrevista coletiva na Cidade da Polícia, no Jacaré, na Zona Norte.
A polícia prendeu Luís Fabiano da Silva, no Rio Grande do Sul por porte ilegal de arma de fogo. Um adolescente da cidade do Rio, que também participaria do atentado, foi apreendido por armazenamento de pornografia infantil.
“É terrorismo. Eles planejavam um ataque terrorista. Até por isso estamos divulgando somente hoje, para não criar alarde, espalhar pânico. Foi uma operação importante, que não interferiu no desenrolar do evento, mas impediu que um mal maior acontecesse”, salientou o delegado, ressaltando que a ação frustrou o plano na manhã de sábado, ou seja, horas antes da apresentação.
“Essa ação salvou centenas de vidas. E nosso objetivo é zelar para que a Internet não se torne um território sem lei”, destacou o delegado Luiz Lima, titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI).
“No terrorismo, o ato preparatório também pode ser considerado crime. Não precisa esperar jogarem a bomba. A Justiça entendeu dessa forma e expediu os mandados”, complementou o delegado Carlos Oliveira, subsecretário de operacional da Polícia Civil.
De acordo com as investigações, que tiveram início na segunda-feira (28), o plano vinha sendo tramado na plataforma digital Discord, muito utilizada pelos usuários para difusão de conteúdos perturbadores e crimes de ódio, sobretudo, com direcionamento a crianças e adolescentes.
O objetivo era atrair esses alvos para uma espécie de desafio coletivo a fim de gerar notoriedade para os envolvidos. Embora artefatos explosivos não tenham sido apreendidos nas diligências, era evidente a intenção de levar bombas para o show, principalmente para atacar pessoas do público LGBTQIA+, asseguraram as autoridades – além da motivação homofóbica e transfóbica, um ritual satanista também foi descoberto em meio às investigações.
As autoridades enfatizaram que bombas não foram encontradas, até porque poderiam ser fabricadas de maneira caseira, mas que celulares e computadores apreendidos ajudarão no desdobramento da ação, que nesta primeira etapa, nos estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, teve um total de nove alvos – além do preso e do adolescente apreendido, outras sete pessoas foram abordadas para cumprimento de mandados de busca e apreensão.
“Os líderes que pretendiam que o massacre acontecesse foram presos. Os demais tiveram objetos apreendidos, que passarão por análise. Eles permaneceram acautelados até o fim do show”, acrescentou Lima.
Ritual de sacrifício
Paralelamente à investigação contra o grupo que planejava um atentado contra pessoas LGBTQIA+, a Polícia Civil chegou também a um homem que vinha usando redes sociais com uma motivação religiosa. Ele é um brasileiro, de 44 anos, extraditado dos Estados Unidos, onde viveu por cerca de 25 anos, e foi localizado em Macaé, no Norte Fluminense.
Segundo a Polícia Civil, o homem considera a cantora Lady Gaga uma representante do satanismo e, pela mesma causa, pretendia exibir pela Internet o sacrifício de um bebê durante a apresentação da norte-americana. Como não havia mandado de prisão expedido, ele foi liberado após depoimento.
Operação Rastreio
Na coletiva, além da ação que impediu o ataque a bomba em Copacabana, as autoridades abordaram ainda a operação Rastreio, que prendeu, também neste sábado, 16 integrantes de uma quadrilha apontada como a maior especialista de roubo, furto e receptação de celulares no estado.
A corporação informou que chegou aos envolvidos, na região da Uruguaiana, Centro do Rio, devido a uma movimentação atípica, que chamou atenção, devido também ao show de Lady Gaga.
Dentre as informações levantadas na operação – desencadeada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) –, foi descoberto que os integrantes da quadrilha pagavam a pessoas em situação de rua a quantia de R$ 50 para que abrissem contas bancárias para onde era transferido o dinheiro das vítimas.
O delegado Felipe Curi afirmou que dos 16 detidos, 15 já tinham passagem pela polícia – destes, seis já haviam sido pegos no mesmo local e pelo mesmo crime.
Já o subsecretário operacional Carlos Oliveira lamentou a rotina de prender quem já esteve preso:
“A relação custo-benefício para o criminoso que pratica esse delito é favorável. Cerca de 99% são reincidentes. Isso tem que mudar, senão continuaremos fazendo esse retrabalho”.
Além das prisões, os agentes apreenderam 200 celulares, R$ 50 mil em notas e seis notebooks usados no desbloqueio dos aparelhos roubados com o intuito de acessar os dados bancários das vítimas.