Uma ação da Delegacia de Homicídios da Capital da Polícia Civil, do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público e da Interpol prendeu três acusados de participação na morte de Alcebíades Paes Garcia, o Bid, um dos chefes do jogo do bicho no Rio, na madrugada de 25 de fevereiro de 2020, quando ele deixava os desfiles da Marquês de Sapucaí e chegava em casa, na Barra da Tijuca, conforme informações do Jornal Extra.
Entre os presos está Bernardo Bello, ex-presidente da Unidos de Vila Isabel, considerado o mentor intelectual do atentado e capturado em Bogotá, na Colômbia, e os seguranças dele, Thyago Ivan da Silva e Carlos Diego da Costa Cabral. Integrantes do Escritório do Crime, Leonardo Gouveia da Silva, Mad, e seu irmão, Leandro Gouveia da Silva, o Tonhão, também tiveram a prisão preventiva decretada, mas já estavam presos por outros crimes. Já Wagner Dantas Alegre, segurança de Bernardo e apontado como o responsável pelos disparos, está foragido.
De acordo com as investigações da Delegacia de Homicídio da Capital, o homicídio de Bid foi motivado pela disputa dos pontos de contravenção e exploração de máquinas de caça-níqueis na cidade. Bernado foi denunciado pelo Ministério Público na condição de mandante.
Mad e Tonhão teriam concorrido para a prática do crime desempenhando atividades indispensáveis para a execução de Bid, destacando-se a realização, pelo menos desde setembro de 2019, de intensa vigilância e monitoramento da vítima. Os irmãos chegaram a ser investigados por suspeita de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
Já os seguranças contratados por Bid para a ida ao sambódromo, Thyago e Carlos Diego, foram denunciados, respectivamente, pelo fornecimento de informações e localização da vítima e abandono de seu posto de vigilância. Por sua vez, Wagner foi apontado como autor dos disparos de arma de fogo (fuzil calibre 5,56) que alvejaram a vítima, lhe causando as graves lesões, que levaram a morte.
Ainda segundo a denúncia, o homicídio foi praticado por motivo torpe, para eliminar possível concorrente pelo domínio dos pontos da contravenção do jogo do bicho e exploração de máquinas caça-níqueis na zona Sul e em parte da zona Norte do Rio.
“Foi praticado de modo a resultar perigo comum, com o emprego de arma de fogo quando a vítima se encontrava no interior de veículo onde estavam outros passageiros e motorista, em região urbana densamente povoada, colocando em risco incontáveis pessoas. Por fim, o crime ocorreu mediante dissimulação, uma vez que dois denunciados lograram ser contratados como seguranças para integrar a escolta de Bid, que pensava estar protegido; e por emboscada, uma vez que a vítima foi brutalmente alvejada por dezenas de tiros de fuzil, sem qualquer chance de defesa, no exato momento em que desembarcava de uma van, por executor que já a guardava de modo velado no local”, informou o MP.
Em nota, o advogado Fernando Augusto Fernandes, que defende Bernardo Bello, afirmou que ele é inocente:”Ele estava em viagem com os filhos menores de idade no exterior e foi preso retornando ao Brasil. Ele é inocente do fatos que lhe imputam e vale informar que sempre esteve a disposição das autoridades brasileiras. Devido a isso, a defesa irá requerer sua soltura por habeas corpus”.
Alcebíades Paes Garcia, Bid era irmão do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o Maninho, morto em 28 de setembro de 2004, quando deixava uma academia de ginástica na Freguesia, em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Em janeiro de 2008, Bid procurou a Polícia Civil para relatar que sua sobrinha, Shanna Harrouche Garcia — filha de Maninho —, havia invadido sua fazenda, localizada na Estrada Rio-Friburgo, em meio a uma briga familiar que disputa o espólio de seu pai e avô de Shanna, Waldomiro Paes Garcia, o Miro.
De acordo com o relato, Shanna esteve na fazenda com um “capataz”, ordenou que ele expulsasse todos os empregados da fazenda, retirou vários gados do local e deixou homens armados na propriedade. Ela também teria trocado os cadeados do imóvel.
Em 8 de novembro de 2019, Shanna, de 34 anos, foi baleada num shopping no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Na ocasião, ela foi atingida por dois disparos, mas teve lesões graves. Logo após o crime, Shanna acusou o ex-cunhado, Bernardo Bello.