A dentista Perla Spozito, 24 anos, que foi vítima de injúria racial no último domingo em Macaé, no Norte Fluminense, pelo dono do quiosque, relatou em recente entrevista para InterTV como aconteceu o episódio.
Perla conta que estava no quiosque da Praia do Pecado quando tentou ir ao banheiro com uma amiga, mas que foram impedidas por um homem que as hostilizou e as chamou de “neguinhas”.
“Era meu dia de folga. Estava com uns amigos, todos consumindo no quiosque. Até que eu precisei ir ao banheiro e pedi que ele me indicasse onde ficava o banheiro. Eu estava de biquíni e de chinelo, estávamos na areia. No mesmo momento ele foi extremamente racista. Tentei explicar que estávamos consumindo e ele disse: ‘sai daqui sua neguinha, você não é daqui. Se você quer dinheiro você tem que pedir em outro lugar, eu não tenho que pagar banheiro pra você’”, disse Perla.
Ainda segundo a jovem, o homem fazia gestos para expulsá-la do local.
“Foi como se eu fosse um bicho e ele estivesse realmente me enxotando”.
O homem estava atendendo no quiosque. No dia, ele foi detido e autuado por injúria. Ele foi liberado depois de pagar uma fiança de dois salários mínimos, que é de R$ 2.424 nos valores atuais.
O caso gerou também revolta nos moradores. Após a repercussão, o quiosque amanheceu pichado com a palavra “Racista”.
No início de outubro, a Prefeitura de Macaé criou o Estatuto Municipal de Promoção da Igualdade Racial. O objetivo é combater o preconceito e discriminação.
O prefeito de Macaé, Welberth Rezende, se pronunciou sobre o caso e disse que o município vai tomar medidas necessárias. Uma das medidas adotadas foi a interdição do quiosque, que exige também a desocupação do imóvel.
“Infelizmente ainda insiste acontecer em nosso meio social esses casos de racismo. Um assunto muito sério e muito grave que é inaceitável nesse governo. Tanto que criamos nossa reforma administrativa e criamos uma das poucas secretarias municipais de combate ao racismo, que é a Secretaria de Igualdade Racial. […] É tolerância zero em relação ao racismo aqui no município de Macaé”, disse o prefeito.
Nesta semana, além de Perla, um servidor público também foi vítima de injúria racial. Neste caso, uma mulher de 52 anos foi presa ao resistir à abordagem, imagens mostraram que os agentes da Polícia Militar precisaram carregá-la na cadeira onde estava sentada até a viatura.
A mulher também não aceitou entrar no carro da polícia e acabou sendo algemada após discutir com os policiais. Mesmo com os braços imobilizados, ela seguiu resistindo à prisão.
De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o ISP, em 2021, nove pessoas foram vítimas de preconceito de raça ou de cor em Macaé. O instituto ainda não possui dados sobre os casos registrados em 2022.